Pretende-se
questioná-los e mostrar outras possibilidades de encarar (ou visualizar)
algumas características dos negros ou ainda desfazer alguns mitos extremamente
maldosos. (Pode ser que o leitor encontre uma maneira ainda melhor de vislumbrar
a si próprio ou ao seu semelhante. Seria ótimo!)
A) Empatia
Poderá chocar a
alguns; mas, muitas das opiniões distorcidas e pejorativas que o branco tem
sobre o negro, o negro também tem de si próprio. E isto é uma parte muito
mais importante do problema do que se pode imaginar. É muito comum, famílias
negras usarem termos pejorativos ou piadas depreciativas a respeito de sua cor e características.
Também é comum pais usarem este tipo de termos quando corrigem suas crianças.
Precisamos ter empatia e procurar
entender as razões alarmantes disso. É muito cômodo apenas dizer: “Ah! Se o
próprio negro tem preconceito, então o problema está nele.” Isto tem sido
dito por décadas e dá um alívio temporário de consciência para quem, no
momento, não estiver se sentindo negro. (Porque: – mesmo antes das
cotas- às vezes, ser negro ou não - é questão da conveniência do
momento. Num momento é conveniente recorrer às raízes afro, sejam elas
genéticas ou culturais. Em outro momento é conveniente desfrutar dos benefícios
do clareamento ou de nunca ter precisado passar por este processo.
Mas,
atenção! Aqueles que trazem sua negrura inconfundível e inquestionavelmente
estampada na pele, jamais poderão usufruir dos benefícios desta dualidade! Eles
são sempre negros. Esses não podem uma hora estar de um lado, em outra de outro!
Veja um pouco do que é feito para que
o negro chegue a tal grau de autoestima:
Uma criança negra, desde bebê, começa a
ver nos brinquedos modelos de beleza ou ideal nas bonecas brancas. Geralmente louras de olhos azuis.
(Só há pouco tempo, timidamente, bonecas negras começaram a ser comercializadas
em escala mais abrangente). Porém, o geral de brinquedos, inclusive os bem
baratos, entregues com abundância a crianças pobres; por instituições de
caridade, são bonecas louras de olhos claros. Sem contar outras centenas de estímulos visuais em cartazes, filmes, etc. Onde o bem sucedido e feliz, quase sempre, é o semelhante à boneca.
Como seria se esta criança negra
recebesse suas primeiras bonequinhas negras. Brincasse com elas, como “suas
filhinhas”. Aprendesse desde pequena que a cor e os traços de suas
“bonequinhas negras” são lindos e naturais. E mais tarde, a mesma
menininha, ganhasse de presente uma bonequinha branca, cujos traços também
fossem considerados belos e naturais. A segunda poderia ser, no seu imaginário infantil, uma amiguinha da outra. (O negro não precisa jamais desconsiderar
o branco. Mas apenas desde criança ser levado a considerar e valorizar a si
próprio).
Parece pouco, mas faria uma grande
diferença em sua autoestima. Na formação mais básica de sua autoimagem. Brincadeira
é um aprendizado para a vida. Há coisas muito simples e que parecem óbvias, mas
que temos ignorado por gerações. Porém, de agora em diante, com a globalização,
não dá mais, perante o mundo todo, para o Brasil se fazer de inocente e bonzinho.
Muitas vezes, o que está por trás de tanta
bondade é: comodismo e falta de comprometimento, quando não outros
motivos mais obscuros.
Também, a mesma criança quando começa
ir à creche ou escola, perceberá diferença sensível entre ela e as crianças
parecidas com sua boneca loura. O lanche delas (quando vindo de casa) é melhor que o
seu. Suas roupas são melhores. Ela (a semelhante à boneca) é amada e elogiada por todos: “Que olhos
lindos você tem! Que cabelo macio! Que gracinha!” (Testemunhei um
caso em que: uma pessoa, enquanto cuidava de várias crianças, tirava fotos
das mais claras e as elogiava freneticamente perante as outras crianças e outros cuidadores). Pessoas com tais comportamentos, alias, muito comuns; jamais os considerarão racistas, preconceituosos ou algo impróprio. A não ser que haja um demorado trabalho de educação e esclarecimento nesta área. Muitos simplesmente não têm visão para tal coisa. Estão cegados por séculos de costumes hipócritas! É semelhante ao brasileiro que se julga "o povo" mais limpo do mundo porque toma banho todos os dias. Mas não se constrange nem um pouco ao jogar lixo nas ruas. Ele está, na verdade, é com a consciência cauterizada neste aspecto.
A criança negra não tem dúvidas, (e
nem os outros): "Aquela criança, parecida com sua boneca e também com as
crianças felizes da TV, é realmente LINDA"! A essa altura, ela já estará com
problemas de autoestima que, provavelmente, levará para a vida toda.
Quando, adulta, ela chega ao mercado
de trabalho. E, mais uma vez, vê que sua cor não lhe favorece em nada. (A cor em
si, fora de contexto sociocultural preconceituoso, não tem nada de negativo).
Ainda não estamos levando
em conta todas as piadas, apelidos grosseiros que esta pessoa se acostumará a
ouvir em relação a sua cor desde pequena. (O negro que não convive bem com
conversas do tipo: Você é negão, neguinho, preto, mas..., não é bem
visto.) Para ser bem visto e aceito pelos "amigos"; o negro tem que aceitar com
bom humor as piadas ou apelidos grotescos em relação à sua cor ou
características físicas. E ele será um “cara mais legal” ainda se ele
mesmo fizer piadinhas grosseiras em relação a si próprio e a outros negros.
Caso contrário, será tachado de “ter complexo” de sua cor e de
não aceitar brincadeiras, etc. Será comparado com outros que "aceitam tais brincadeiras," e excluído.
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