Uma situação discriminatória
não vem com legenda gigante: Atenção
Racismo!
Às vezes, certas atitudes são difíceis
de serem comprovadas em qualquer cultura, elas são tão sutis que só quem as vive
sucessivamente sabe que são reais. A cultura
brasileira tem algumas peculiaridades que favorecem a esta dificuldade.
Vejamos uma Característica Cultural e como ela favorece ao Racismo:
Quem fica em desvantagem em determinadas situações?
Numa conversa há: Remetente e Destinatário. Entre os dois, quem tem a pressão para tornar o resultado do
diálogo aceitável - de acordo com o padrão cultural brasileiro - é o receptor ou destinatário. Ele é responsável por não fugir do que é esperado como
resultado do que foi sugerido pelo remetente.
Chamaremos de: A) Agente (o primeiro elemento do diálogo)
B) Reagente
(o segundo elemento)
O Agente:
é o provocador de resposta ou reação. O Reagente:
(preferimos usar o termo reagente e não paciente ou submisso porque veremos que
ele muitas vezes não está submisso à pessoa. Em certo sentido ele tem escolhas,
desde que assuma as consequências). Mas, geralmente, ficará com a parte decisiva
de responder à situação de acordo com o esperado; o culturalmente considerado
apropriado para a situação. É comum o Agente
deixar toda a responsabilidade de ser: razoável, elegante, educado, correto ou não, para o Reagente. O Agente
também pode ser a pessoa que esteja em posição de vantagem em algumas situações,
mesmo não sendo o iniciador do diálogo.
·
Vejamos alguns
exemplos: Se alguém oferece um alimento, uma bebida ou certas gentilezas, o que
oferece é o Agente. Geralmente, a
pessoa destinatária, Reagente,
agradece, não aceitando, até a terceira ou quarta insistência. Só então,
aceitará. No caso do Agente não
insistir algumas vezes, o Reagente
não se sentirá à vontade para aceitar, mesmo que deseje o que está sendo
oferecido. O Reagente deverá ter a sutileza de decidir, (aceitar ou não). De
fazer (ou não) o que a cultura
espera dele. Que, no caso da não insistência, seria: Agradecer gentilmente e
não aceitar. Ou ser indelicado e talvez, causar constrangimento para o Agente ao aceitar. (Veja que mesmo
que o Agente seja “o líder na
situação, ou o provocador de reação”,
toda a responsabilidade de ser correto ou não, de acordo com a cultura, recai
sobre o Reagente). É ele quem
deve ter a atitude esperada (culturalmente) para deixar a situação confortável
para ambos e para os demais envolvidos. Há uma sutil rede envolvendo a
todos (cultura) que os conformam às respostas. Muitas vezes, parece que a
pessoa tem escolha, mas, na verdade a resposta já está determinada pela cultura.
Ele vai simplesmente ter a reação
que se espera dele, para aquela situação.
·
Quando um visitante está saindo da casa
de alguém é comum: “Não vá, fique mais um
pouco!” (Agente)
Não houve falta de
sinceridade, mas sim, a expectativa de que a outra pessoa tome a iniciativa de
“se
submeter ao que seja razoável” para o contexto, dentro da cultura
brasileira. Então, a outra pessoa, pelo convívio sociocultural terá a
percepção intuitiva e, geralmente, a reação esperada. No caso,
anfitrião é o agente, que diz: “Não vá, fique mais um pouco!” O visitante,
reagente, não deverá ficar até se
tornar inconveniente. Como saber se o anfitrião quer realmente que o visitante
fique mais um pouco? É só intuição,
conhecimento do outro, não há uma regra!
·
Uma pessoa que deve para outra diz: “Te
pago ou te devolvo ... dentro de uma semana.” O credor diz: “Não precisa se preocupar.” Neste caso,
ele se torna Agente por estar em
situação de vantagem (não foi o iniciador da conversa). Ele joga a responsabilidade
de decidir cumprir ou não a promessa de pagar em uma semana, para o que irá reagir à sua colocação: “Não precisa se preocupar.” (Na verdade,
geralmente, espera-se que o devedor se preocupe sim, e cumpra a sua palavra. A
responsabilidade, porém é dele e não de quem emprestou. Que quis apenas ser
gentil). Há exceções em que a pessoa realmente pretende que a outra não se
preocupe. Mas, na maioria das vezes, é apenas maneira cultural de ser gentil e deixar toda a responsabilidade de ser
correto ou não com o devedor. (Se ele não pagar, quem perderá o crédito?)
Como saber se o Agente realmente pretendeu que o Reagente não se preocupasse? Mais uma
vez, não existe uma regra, mas no geral, segue-se o culturalmente esperado.
Observação: A cultura brasileira é cheia de
situações desse tipo.
Como este Aspecto Cultural se Aplica ao Racismo?
(Continuará na próxima publicação!)
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