A Auxiliar de enfermagem - em um
hospital particular - gostava muito do que fazia, por isto tinha extrema
dedicação e carinho pelos pacientes. Não ganhava tão bem, apesar do hospital assistir à classe média.
Ela era mulher negra, parecia
exuberante em seu uniforme branco impecável. Nunca havia se preocupado com o termo
racismo, achava que se fosse educada, gentil e cumprisse à risca suas
obrigações, não teria com que se preocupar. Geralmente, o comportamento dos pacientes em
relação à sua pessoa variava de agradável a indiferente; mas nunca
grosseiro.
Certo dia porém, a situação
mudou:
Deu entrada um paciente, que havia
sofrido derrame há alguns anos. Estava precisando de controle mais rigoroso da
pressão arterial. Tinha algumas
sequelas: um lado do corpo semi-paralisado, andava com ajuda de
alguém ou do aparelho andador.
Apesar disso, era lúcido e conversava normalmente.
Como de costume, ao primeiro
contato, a funcionária cumprimentou-o, chamando pelo nome. Se
apresentou e especificou brevemente o que iria fazer.
Surpresa e incrédula, ouviu a seguinte
resposta: “Sua macaca, faça sua obrigação
e não fale comigo, nega fedida!” Por segundos, em estado de
choque, ela ficou paralisada. Pois, até então, nunca havia sofrido insulto
racista de maneira tão aberta e contundente. Sem ação, saiu do quarto
para se recompor e refletir um pouco, sobre a situação. Não sabendo o que fazer no momento, chamou uma
colega, pediu-lhe para atendê-lo. Não se sentindo à vontade para dizer-lhe o porquê.
Apenas disse que precisava se ausentar-se por um instante e logo voltaria. A
colega que era branca, não estranhou o pedido, pensando se tratar de
necessidade fisiológica urgente.
Passado o choque, ela decidiu: terminar seu turno normalmente, concentrando-se no trabalho. Refletiria mais detidamente sobre o ocorrido em casa. Onde poderia também trocar algumas ideias com o marido sobre o assunto. Seu esposo tinha temperamento calmo e opiniões bem ponderadas. O que, muitas vezes, a ajudara a ver situações por ângulos diferentes.
Chegou à tarde em casa, dali uma hora e meia, o marido também. Ela achou melhor fazer o possível para não demonstrar contrariedade até que ele tomasse banho, jantasse e descansasse um pouco. Então, quando concluiu ser o momento de se tocar no assunto, já passava das 21 horas.
Começou a narrar, toda a estresse veio à tona em forma de lágrimas abundantes. O marido
ouviu tudo em silêncio. Fez algumas perguntas sobre: o estado do paciente, se
estavam apenas os dois, etc. Depois deu a seguinte sugestão: Esse homem está
com limitações físicas. Ele depende de você e de outros funcionários para
algumas necessidades básicas. Provavelmente, esteja apenas; descarregando sua
frustração e seu orgulho ferido sobre você. Talvez, tenha sempre desprezado negros e agora se sentiu humilhado ao ser assistido por
alguém negro, quando fragilizado pela doença.
Eu faria o
seguinte: tratá-lo-ia normalmente, como qualquer outra pessoa. Um dia pode
ser que ele se canse e sinta-se envergonhado, ou pode ser que não mude! Mas, e
daí? Lembre-se: Você é responsável por suas atitudes e não pelas de outra
pessoa.
Ela se sentiu reconfortada e
decidiu dormir tranquilamente, achando que talvez, tivesse levado a situação a
sério demais.
Nos dias seguintes, o paciente a
humilhava, destrava. Às vezes, até tentava alcançá-la com tapas e cuspidas, etc.
Um dia, seu filho ao visitá-lo, assistiu a uma das cenas de desacato à funcionária, ficando visivelmente constrangido. Pediu
desculpas e atribuiu o comportamento do pai à doença.
Ela
argumentou da seguinte maneira: Mesmo que
a doença tenha alguma relação com o seu nervosismo e descontrole. Não é
justificativa para a maneira preconceituosa com que me trata. Tanto é que ele
não age da mesma maneira quando é assistido por indivíduo branco. Na verdade, ele
está externando a atitude que foi guardada por anos dentro de si.
Mas, não se preocupe: seu pai será tratado com respeito e dignidade,
independentemente do seu comportamento. O homem, muito envergonhado,
agradeceu e saiu.
Aquele senhor recebeu alta
hospitalar, foi para casa, voltou, tornou a ter alta, tornou a voltar. Até que
um dia, sofreu um novo derrame e faleceu.
A maior lição que a auxiliar de
enfermagem tirou da situação foi que: Ela seria sempre responsável pelos seus próprios atos independentemente
dos atos de outros. Se ela pagasse ódio com ódio, seguir-se-ia uma lógica
perversa e interminável!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aguardando pela Moderação
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.