Terceira Série, grupo escolar, 1965. A professora era amada
por todos os alunos, considerada uma das melhores daquela escola. As crianças
comentavam entre si sobre a expectativa de passar para sua classe.
Naquele tempo, é claro, não havia internet, não se seguia o “politicamente correto” (nem o
termo era usado). Crianças e adolescentes
eram mais ingênuas e submissas.
A menina negra de trancinhas também ficou empolgada ao passar
para a classe da professora “famosa”.
De fato, ela era simpática e ensinava os conteúdos muito bem. Mas, com crianças
negras, usava de ironia e sarcasmo que desafiavam a lógica e as deixavam confusas.
Tais alunos não compreendiam certas “colocações”
feitas, ficavam curiosos tentando entender o significado; às vezes, comentavam em
casa, tentando obter ajuda dos pais para compreender o que fora dito na classe.
Exemplos de atitudes da
professora:
·
Ela,
por várias vezes, segurava a face de uma criança negra (tendo as bochechas
entre seu polegar e indicador) e dizia: “Acho
lindo rosto negro com uma cicatriz bem profunda na face! ” E riscava toda a
face com o dedo (sempre sorrindo)
mostrando como deveria ser a cicatriz. Fazia isso cada vez numa criança
negra, em dias diferentes, passando por todas e repetindo em algumas. Uma vez,
a menina de trancinhas que tinha uma leve marca no rosto, causada por acidente em
brincadeira infantil, disse ingenuamente, tentando ser agradável e receber um
elogio da professora querida: “Veja, eu
já tenho uma cicatriz no rosto!” Ela respondeu sorrindo, sem perder o tom gentil da voz: “Essa é muito suave, para ficar bonita precisa ser bem mais
profunda!” (Mesmo com tanto cinismo, a menina não percebeu maldade, mas
comentou em casa, muito encabulada com a ideia de que: para ficar bonita e
ter a aprovação da professora “boazinha”;
precisaria ter uma cicatriz profunda no rosto). A mãe ficou pensativa, mas não
disse nada.
·
Também
a professora dizia que o correto em português seria dizer lábios (se referindo a
brancos) e beiço (quando se tratasse de negros).
·
De
repente, do nada, ela abraçava uma criança negra e perguntava-lhe, sorrindo,
como ela havia conseguido estar estudando naquela escola tão boa (era escola
pública de bairro modesto). A criança explicava com simplicidade que os pais a
havia matriculado. Ela dizia que há pouco tempo atrás, escola era só para
brancos e que negros faziam serviços muito simples e não precisavam perder
tempo estudando.
Todo
esse comportamento da “tal professora
maravilhosa”, “passou batido”,
ela nunca foi questionada, sempre foi tida como uma professora exemplar! Eis, talvez, uma das principais razões de se dizer que no Brasil não haja racismo: ELE NÃO É RECONHECIDO!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirChocada!
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