quarta-feira, 30 de outubro de 2013

De que o Negro Precisa Conscientizar-se? (20/11)


Dia Nacional da Consciência Negra
1. De que o negro precisa conscientizar-se?
 
Algumas sugestões:
 
Primeiramente de si, de sua identidade, sua história, suas potencialidades, seu lugar na sociedade.
O negro precisa apreender-se de ser negro, aprender sentir-se negro, e sentir-se bem por ser negro! Sentir-se livre como “negro”.
Muitos negros (não todos) precisam passar a ter uma atitude de trabalhar A SEU PRÓPRIO FAVOR! A valorização do negro deve começar por ele próprio, se um negro apoia, acata, participa de zombarias a respeito de qualquer coisa que se refira ao negro. Se ele também pensa de maneira depreciativa a respeito de "características de negro" como por exemplo: tons de cor escura, lábios grossos, narinas largas, etc.; como poderá esperar que outras pessoas mudem este modelo de valores?
·       Apreender: apropriar-se da percepção correta e justa de si como negro.
·       Aprender: o que será feito a partir da visão correta de si, resultados do que foi apreendido, mudanças (práticas) de comportamento.
  •      Sentir-se livre: ver-se como pessoa completa, comum, igual. É claro que há uma forte pressão...
                                  (continuará na próxima publicação)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

2. O que o Negro Brasileiro Deve Buscar na África?

                                                                    (Continuação!)

O negro brasileiro não precisa voltar à África em busca de si mesmo. Mas, apenas buscar conhecimento, ampliar sua visão. É claro que crescerá com isso, mas não mudará sua essência cultural porque se o fizesse, passaria a ser apenas uma caricatura! O negro brasileiro é brasileiro! Tudo o que ele buscar seja na África, na Europa (sim, na Europa, muitos negros têm miscigenação europeia que a cor não denuncia) ou em qualquer outro lugar, deverá ser com o objetivo de se informar. Talvez, poderá entender melhor algo que ele já seja e não  modificar-se para uma “mímica” daquilo que  não é.  Ele tem uma “brasilidade” secular, profunda e complexa na qual  o que é dá África já está diluído.
Conclusão:
Sabendo de sua origem africana e reconhecendo sua cultura brasileira (com influências africana, portuguesa, etc.) já enraizada há séculos. Mesmo levando em conta todas as diferentes maneiras de ver e levar a vida, o negro pode se identificar com outros negros, lembrando que têm uma parte importante de sua história em comum; honrar a outros negros, valorizar. E sempre que possível, dar oportunidades a outros negros! Isso não vai -de maneira nenhuma- prejudicar outros relacionamentos. Lembrem-se: no mundo inteiro os PATRÍCIOS se valorizam e se apoiam mutuamente!
 
 
 
 
 
 
 

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Por que Há um Distanciamento entre Negros? ( Diferenças entre Imigrantes e Negros)


Patrício (conterrâneo)
 
  • Imigrantes!
Todos os grupos que vieram para o Brasil na colonização ou posteriormente apresentam identificação com seus “conterrâneos.  Descendentes de Italianos, Portugueses, Japoneses e muitos outros. Há uma alegre identificação imediata, um respeito, uma reciprocidade! Uma alegria de ser, de estar, de lembrar-se!
 
  • E os negros?
Até mais ou menos no final dos anos setenta, em algumas regiões do Brasil era comum negros cumprimentarem-se chamando um ao outro de patrício (a). (Isso tem alguma semelhança ao costume dos negros  norte-americanos de tratarem-se como: “Brothers”). É uma identificação.  No Brasil, homens tiravam os chapéus e diziam algo do tipo: “Como vai patrício! Bom dia patrícia! Sim senhor, patrício! Era bonito e refletia algum nível de identidade e respeito! Deveria ter continuado...!

1.             Por que Há certo Distanciamento entre Negros?
Muitas circunstâncias levaram a tal situação que pode se manifestar por: Indiferença, muitas vezes frieza, “cada um na sua”; constrangimento em estar num grupo com muitos negros (ou só de negros). Como em muitos outros temas tratados aqui, neste também há exceções!

 É claro que vivemos numa sociedade complexa com diferenças de valores. Não se pretende que todos negros façam parte de um mesmo grupo, como se fosse um clube. Não, não é isso! É uma mudança de olhar, mudança da maneira de ver a  si próprio. Uma alegria do negro em ver o negro! Uma alegria projetada nos outros, olhar para o outro e se enaltecer, se alegrar com o ser negro, com o que o outro negro é!

Por que há essa dificuldade ou timidez?
Em grande parte, devido à maneira agressiva como os negros foram arrancados de suas raízes; colocados para servir como escravos, sem nenhuma dignidade. Em certos casos colocados juntos, mesmo sendo de grupos diferentes, culturas e línguas diferentes. Até, de países diferentes. (Muitas vezes,  pensa-se África como unidade e não diferenças enormes como são).  

E mais tarde,  após a “libertação”, foram abandonados à própria sorte; ainda sendo oprimidos e discriminados. Além de terem perdido rapidamente a memória da origem africana, mesmo que muitos costumes africanos se incorporaram à cultura brasileira, não há no negro uma memoria pessoal de: de que região da África eu vim; de que grupo ou país são meus antepassados, que características eu tenho deles, etc.  (perderam-se totalmente os registros ou nunca existiram). Muito do afeto entre conterrâneos está diretamente ligado às memórias do país de origem que pode ter sido formada por experiências pessoais ou passadas de geração a geração. Também houve a vergonha, tristeza por todos os tipos de humilhações passadas que levaram muitos a ver o ser negro” como causa do sofrimento. Então, por que identificar-se com aquilo que os oprime? O ser negro! (Na verdade o que oprime não é o ser, mas sim as circunstâncias).
                            (Continuará na próxima publicação!)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ela dizia: "Acho lindo rosto negro com uma cicatriz bem profunda na face!"


Terceira Série, grupo escolar, 1965. A professora era amada por todos os alunos, considerada uma das melhores daquela escola. As crianças comentavam entre si sobre a expectativa de passar para sua classe.

Naquele tempo, é claro, não havia internet, não se seguia o “politicamente correto” (nem o termo era usado).  Crianças e adolescentes eram mais ingênuas e submissas.

A menina negra de trancinhas também ficou empolgada ao passar para a classe da professora “famosa”. De fato, ela era simpática e ensinava os conteúdos muito bem. Mas, com crianças negras, usava de ironia e sarcasmo que desafiavam a lógica e as deixavam confusas. Tais alunos não compreendiam certas “colocações” feitas, ficavam curiosos tentando entender o significado; às vezes, comentavam em casa, tentando obter ajuda dos pais para compreender o que fora dito na classe.

Exemplos de atitudes da professora:

·        Ela, por várias vezes, segurava a face de uma criança negra (tendo as bochechas entre seu polegar e indicador) e dizia: “Acho lindo rosto negro com uma cicatriz bem profunda na face! ” E riscava toda a face com o dedo (sempre sorrindo) mostrando como deveria ser a cicatriz. Fazia isso cada vez numa criança negra, em dias diferentes, passando por todas e repetindo em algumas. Uma vez, a menina de trancinhas  que tinha uma leve marca no rosto, causada por acidente em brincadeira    infantil, disse ingenuamente, tentando ser agradável e receber um elogio da professora querida: “Veja, eu já tenho uma cicatriz no rosto!” Ela respondeu sorrindo, sem perder o tom gentil da voz: “Essa é muito suave, para ficar  bonita precisa ser bem mais profunda!” (Mesmo com tanto cinismo, a menina não percebeu maldade, mas comentou em casa, muito encabulada com a ideia de que: para ficar bonita e ter a aprovação da professora “boazinha”; precisaria ter uma cicatriz profunda no rosto). A mãe ficou pensativa, mas não disse nada.

·        Também a professora dizia que o correto em português seria dizer lábios (se referindo a brancos) e beiço (quando se tratasse de negros).

·        De repente, do nada, ela abraçava uma criança negra e perguntava-lhe, sorrindo, como ela havia conseguido estar estudando naquela escola tão boa (era escola pública de bairro modesto). A criança explicava  com simplicidade que os pais a havia matriculado. Ela dizia que há pouco tempo atrás, escola era só para brancos e que negros faziam serviços muito simples e não precisavam perder tempo estudando.
Todo esse comportamento da “tal professora maravilhosa”, “passou batido”, ela nunca foi questionada, sempre foi tida como uma professora exemplar! Eis, talvez, uma das  principais razões de se dizer que no Brasil não haja racismo:  ELE NÃO É RECONHECIDO!