segunda-feira, 17 de junho de 2013

5. PONDO O DEDO NA FERIDA (Chavões Racistas ou Rótulos)

O prezado leitor há de se lembrar que o capítulo anterior tratou um pouco sobre a necessidade de discernir o racismo na cultura brasileira. Este capítulo, não tendo a pretensão de ser a palavra final, se propõe a expor chavões e rótulos PERVERSOS usados em relação ao negro nos “bastidores” da vida. Os quais, dificilmente, alguém tenha coragem de abordar abertamente em público. Mas que precisam ser tratados porque muitas pessoas (inclusive negras) acreditam neles. Pois, são passados de geração a geração, sem que ninguém faça alguma coisa consistente para combatê-los.
Pretende-se questioná-los e mostrar outras possibilidades de encarar (ou visualizar) algumas características dos negros ou ainda desfazer alguns mitos extremamente maldosos. (Pode ser que o leitor encontre uma maneira ainda melhor de vislumbrar a si próprio ou ao seu semelhante. Seria ótimo!) 
 A) Empatia
Poderá chocar a alguns; mas, muitas das opiniões distorcidas e pejorativas que o branco tem sobre o negro, o negro também tem de si próprio. E isto é uma parte muito mais importante do problema do que se pode imaginar. É muito comum, famílias negras usarem termos pejorativos ou piadas depreciativas a respeito de sua cor e características. Também é comum pais usarem este tipo de termos quando corrigem suas crianças.
Precisamos ter empatia e procurar entender as razões alarmantes disso. É muito cômodo apenas dizer: “Ah! Se o próprio negro tem preconceito, então o problema está nele.” Isto tem sido dito por décadas e dá um alívio temporário de consciência para quem, no momento, não estiver se sentindo negro. (Porque: – mesmo antes das cotas-  às vezes, ser negro ou não - é  questão da conveniência do momento. Num momento é conveniente recorrer às raízes afro, sejam elas genéticas ou culturais. Em outro momento é conveniente desfrutar dos benefícios do clareamento ou de nunca ter precisado passar por este processo.
Mas, atenção! Aqueles que trazem  sua negrura inconfundível e inquestionavelmente estampada na pele, jamais poderão usufruir dos benefícios desta dualidade! Eles são sempre negros. Esses  não podem uma hora estar de um lado, em outra  de outro!

Veja um pouco do que é feito para que o negro chegue a tal grau de autoestima:

Uma criança negra, desde bebê, começa a ver nos brinquedos modelos de beleza ou  ideal nas bonecas brancas. Geralmente louras de olhos azuis. (Só há pouco tempo, timidamente, bonecas negras começaram a ser comercializadas em escala mais abrangente). Porém, o geral de brinquedos, inclusive os bem baratos, entregues com abundância a crianças pobres; por instituições de caridade, são bonecas louras de olhos claros. Sem contar outras centenas de estímulos visuais em cartazes, filmes, etc. Onde o bem sucedido e feliz, quase sempre, é o semelhante à boneca.

Como  seria se esta criança negra recebesse suas primeiras bonequinhas negras. Brincasse com elas, como “suas filhinhas”. Aprendesse desde pequena que a cor e os traços de suas  “bonequinhas negras” são lindos e naturais. E mais tarde, a mesma menininha, ganhasse de presente uma bonequinha branca, cujos traços também fossem considerados belos e naturais. A segunda poderia ser, no seu imaginário infantil, uma amiguinha da outra. (O negro não precisa jamais desconsiderar o branco. Mas apenas desde criança ser levado a considerar e valorizar a si próprio).
Parece pouco, mas faria uma grande diferença em sua autoestima. Na formação mais básica de sua autoimagem. Brincadeira é um aprendizado para a vida. Há coisas muito simples e que parecem óbvias, mas que temos ignorado por gerações. Porém, de agora em diante, com a globalização, não dá mais, perante o mundo todo, para o Brasil se fazer de inocente e bonzinho. Muitas vezes, o que está por trás de tanta bondade é: comodismo e falta de comprometimento, quando não  outros motivos mais obscuros.

Também, a mesma criança quando começa ir à creche ou escola, perceberá diferença sensível entre ela e as crianças parecidas com sua boneca loura. O lanche delas (quando vindo de casa) é melhor que o seu. Suas roupas são melhores. Ela (a semelhante à boneca) é amada e elogiada por todos: “Que olhos lindos você tem! Que cabelo macio! Que gracinha!” (Testemunhei um caso em que: uma pessoa, enquanto cuidava de  várias crianças, tirava fotos das mais claras e as elogiava freneticamente perante as outras crianças e outros cuidadores). Pessoas com tais comportamentos, alias, muito comuns; jamais os considerarão racistas, preconceituosos ou algo impróprio. A não ser que haja um demorado trabalho de educação e esclarecimento nesta área. Muitos simplesmente não têm visão para tal coisa. Estão cegados por séculos de costumes hipócritas! É semelhante ao brasileiro que se julga "o povo" mais limpo do mundo porque toma banho todos os dias. Mas não se constrange nem um pouco ao jogar lixo nas ruas. Ele está, na verdade, é com a consciência cauterizada neste aspecto.  
A criança negra não tem dúvidas, (e nem os outros): "Aquela criança, parecida com sua boneca e também com as crianças felizes da TV, é realmente LINDA"! A essa altura, ela já estará com problemas de autoestima que, provavelmente, levará para a vida toda.

Quando, adulta, ela chega ao mercado de trabalho. E, mais uma vez, vê que sua cor não lhe favorece em nada. (A cor em si, fora de contexto sociocultural preconceituoso, não tem nada de negativo).
Ainda não estamos levando em conta todas as piadas, apelidos grosseiros que esta pessoa se acostumará a ouvir em relação a sua cor desde pequena. (O negro que não convive bem com conversas do tipo: Você é negão, neguinho,  preto, mas..., não é bem visto.) Para ser bem visto e aceito pelos "amigos"; o negro tem que aceitar com bom humor as piadas ou apelidos grotescos em relação à sua cor ou características físicas. E ele será um “cara mais legal” ainda se ele mesmo fizer piadinhas grosseiras em relação a si próprio e a outros negros. Caso contrário, será tachado de “ter complexo” de sua cor  e de não aceitar brincadeiras, etc. Será comparado com outros que   "aceitam  tais brincadeiras,"  e excluído.

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