Na praça pública, em uma das belas e ricas cidades
do interior de São Paulo; a figura que passaria totalmente despercebida,
aproximou-se do local mais arborizado. Buscava banco à sombra
para poupar-se do sol escaldante. Era uma mulher magérrima, parecia
mal ter forças para “carregar o corpo” esquelético! Sua aparência sugeria
doença terminal. Era jovem ainda, talvez, menos de 30 anos. Segurava algumas
sacolas.
Ah...! Era negra!
Discretamente, como se estivesse distraída com a
paisagem, eu tentava analisá-la criteriosamente: Que história
aquele ser humano trazia? Quem era ela? Qual seria sua doença? Teria família?
Notei uma grande úlcera aberta na parte posterior
da perna esquerda, quase à altura do tornozelo.
Tentei concentrar-me em minha própria realidade… Ia
dar uma palestra sobre: Educação Infantil, numa escola próxima. Queria reler
rapidamente os tópicos principais. Apreciar
brevemente a beleza da praça, e o frescor à sombra das árvores.
Para minha grande surpresa; de repente, como
quem faz exatamente o que está programado: A mulher abriu as
sacolas, dando início a uma transformação! Sobrepondo, meticulosamente,
novas roupas. Era tão magra que o excesso de vestimentas não seria
percebido. A nova indumentária era composta de: botas que lhe cobriram a chaga da
perna, luvas, chapéu, etc. O chapéu, tipo boina, escondera-lhe totalmente
os cabelos. Por fim, começou a pintar-se com uma maquiagem a qual
lhe dava a cor metálica do aço. Pescoço, orelhas, lábios, tudo se tornara
totalmente metálica.
Era uma Estátua Viva! Daquelas que ficam
imóveis em algum ponto agitado da cidade.
Para que?
Quem apreciasse sua arte, ou ficasse
intrigado com a imobilidade. Ou talvez, até, se sentisse penalizado por
alguém que se expõe a tal situação, com um calor próximo aos 38 graus; depositasse-lhe
algum dinheiro!
Ela terminou de preparar-se e saiu. Agora,
uma elegante estátua de aço! Parecia alguém jovem,
muito jovem! Seu tronco mostrava-se bem liso. Aparentando estar sob
aquela arte, um saudável menino adolescente e não uma esquelética,
lazarenta, mulher negra !
Fiquei meditando..., um pouco chocada e
constrangida: aquela mulher era corajosa: ao invés, de ficar em casa,
lamentando seu destino cruel. Conseguiu liberar-se de tudo que a
colocava à margem! Pelo menos, por alguns momentos, era uma
fascinante, reluzente, Estátua de Aço!
Posicionar-se-ia na parte mais movimentada da cidade, seria
vista, seria apreciada por muitos! Intrigante para alguns!
Ela realmente tinha um coração de aço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aguardando pela Moderação
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.