quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Como Outros Aspectos Culturais Podem Influenciar o Racismo


Uma situação discriminatória não vem com  legenda gigante: Atenção Racismo!
Às vezes, certas atitudes são difíceis de serem comprovadas em qualquer cultura, elas são tão sutis que só quem as vive sucessivamente sabe que são reais. A cultura brasileira tem algumas peculiaridades que favorecem a esta dificuldade.

Vejamos uma Característica Cultural e como ela favorece ao Racismo:  
  • Quem fica em desvantagem em determinadas situações?

Numa conversa há: Remetente e Destinatário. Entre os dois, quem tem a pressão para tornar o resultado do diálogo aceitável - de acordo com o padrão cultural brasileiro - é o receptor ou destinatário. Ele é responsável por não fugir do que é esperado como resultado do que foi sugerido pelo remetente.   
Chamaremos de: A) Agente (o primeiro elemento do diálogo)  
                             B) Reagente (o segundo elemento)
O Agente: é o provocador de resposta ou reação. O Reagente: (preferimos usar o termo reagente e não paciente ou submisso porque veremos que ele muitas vezes não está submisso à pessoa. Em certo sentido ele tem escolhas, desde que assuma as consequências). Mas, geralmente, ficará com a parte decisiva de responder à situação de acordo com o esperado; o culturalmente considerado apropriado para a situação. É comum o Agente deixar toda a responsabilidade de ser: razoável, elegante, educado, correto ou não, para o Reagente. O Agente também pode ser a pessoa que esteja em posição de vantagem em algumas situações, mesmo não sendo o iniciador do diálogo.
·        Vejamos alguns exemplos: Se alguém oferece um alimento, uma bebida ou certas gentilezas, o que oferece é o Agente. Geralmente, a pessoa destinatária, Reagente, agradece, não aceitando, até a terceira ou quarta insistência. Só então, aceitará. No caso do Agente não insistir algumas vezes, o Reagente não se sentirá à vontade para aceitar, mesmo que deseje o que está sendo oferecido. O Reagente deverá ter a sutileza de decidir, (aceitar ou não). De fazer (ou não) o que a cultura espera dele. Que, no caso da não insistência, seria: Agradecer gentilmente e não aceitar. Ou ser indelicado e talvez, causar constrangimento para o Agente ao aceitar. (Veja que mesmo que o Agente seja “o líder na situação, ou o provocador de reação”, toda a responsabilidade de ser correto ou não, de acordo com a cultura, recai sobre o Reagente). É ele quem deve ter a atitude esperada (culturalmente) para deixar a situação confortável para ambos e para os demais envolvidos. Há uma sutil rede envolvendo a todos (cultura) que os conformam às respostas. Muitas vezes, parece que a pessoa tem escolha, mas, na verdade a resposta já está determinada pela cultura. Ele vai simplesmente ter a reação que se espera dele, para aquela situação.
·        Quando um visitante está saindo da casa de alguém é comum: “Não vá, fique mais um pouco!” (Agente)
Não houve falta de sinceridade, mas sim, a expectativa de que a outra pessoa tome a iniciativa de “se submeter ao que seja razoável” para o contexto, dentro da cultura brasileira. Então, a outra pessoa, pelo convívio sociocultural terá a percepção intuitiva e, geralmente, a reação esperada. No caso, anfitrião é o agente, que diz: “Não vá, fique mais um pouco!” O visitante, reagente, não deverá ficar até se tornar inconveniente. Como saber se o anfitrião quer realmente que o visitante fique mais um pouco? É só intuição, conhecimento do outro, não há uma regra!
·        Uma pessoa que deve para outra diz: “Te pago ou te devolvo ... dentro de uma semana.” O credor diz: “Não precisa se preocupar.” Neste caso, ele se torna Agente por estar em situação de vantagem (não foi o iniciador da conversa). Ele joga a responsabilidade de decidir cumprir ou não a promessa de pagar em uma semana, para o que irá reagir à sua colocação: “Não precisa se preocupar.” (Na verdade, geralmente, espera-se que o devedor se preocupe sim, e cumpra a sua palavra. A responsabilidade, porém é dele e não de quem emprestou. Que quis apenas ser gentil). Há exceções em que a pessoa realmente pretende que a outra não se preocupe. Mas, na maioria das vezes, é apenas maneira cultural de ser gentil e deixar toda a responsabilidade de ser correto ou não com o devedor. (Se ele não pagar, quem perderá o crédito?)
Como saber se o Agente realmente pretendeu que o Reagente não se preocupasse? Mais uma vez, não existe uma regra, mas no geral, segue-se o culturalmente esperado.
Observação: A cultura brasileira é cheia de situações desse tipo.
Como este Aspecto Cultural se Aplica ao Racismo?
                                             (Continuará na próxima publicação!)

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